sábado, 18 de junho de 2011

"Berço ao Berço", a nova revolução industrial sob a ótica da Aplicabilidade.

INTRODUÇÃO/JUSTIFICATIVA


As transformações tecnológicas que a humanidade produziu a partir da revolução industrial e com mais evidência depois da II Guerra Mundial, mudaram a forma com que algumas sociedades passaram a utilizar produtos e serviços.

Certos padrões adotados nos levam hoje a reconhecer a inviabilidade da exploração indiscriminada de recursos naturais.

A preocupação em garantir que futuras gerações possam usufruir de condições favoráveis no planeta é o cerne do conceito de sustentabilidade, enunciado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente da ONU, cujo primeiro trabalho resultou no relatório Brundtland, divulgado em 1987.

Dividido em diferentes campos de atuação (ambiental, social, econômico, político e cultural) uma visão fiel deste conceito deve ser abrangente, buscando envolver as várias faces de problemas como o desperdício e a escassez de recursos, a geração e acumulação de resíduos, os resultados dos eventos associados às mudanças climáticas, as pressões econômicas e principalmente, como é possível melhorar a situação atual.

Neste cenário bastante complexo e de muitos intervenientes, o estudo em andamento almeja abordar a inserção da dimensão ambiental no desenvolvimento de produtos, enfatizando a tomada de decisão sobre o conceito do produto principalmente nos estágios iniciais, e suas conseqüências em toda a cadeia produtiva.

A relevância deste trabalho está no estudo dirigido à realidade prática. Com ações efetivas objetivando transformar estruturas que atualmente são tradicionais, berço ao túmulo, para que produzam de acordo com o paradigma berço ao berço, através da produção sustentável

Ao abordar o conceito “Berço ao Berço” “Cradle to Cradle”, cria-se uma massa crítica reflexiva de aspirantes ao ofício da Engenharia, capacitados a criar soluções efetivas que busquem transformar a postura obsoleta de que para produzir é preciso fatidicamente destruir.

Conforme este conceito os produtos e seus componentes devem ser criados para, ao final de seu uso, serem reutilizados com suas propriedades não desgastadas, isto é, como nutrientes tecnológicos, no chamado metabolismo tecnológico. Ou então voltar à natureza como nutrientes biológicos e não como poluentes, através do metabolismo biológico.

Certos padrões adotados nos levam hoje a reconhecer a inviabilidade da exploração indiscriminada de recursos naturais.

Uma visão fiel deste conceito deve ser abrangente, buscando envolver as várias faces de problemas como o desperdício e a escassez de recursos, a geração e acumulação de resíduos, os resultados dos eventos associados às mudanças climáticas, as pressões econômicas e principalmente, como é possível melhorar a situação atual.










FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA:
The Cradle-to-Cradle Alternative By William McDonough & Michael Braungart 2003

Uma pergunta provocadora: Qual é o sistema mais inteligente, “Berço ao Berço” ou “Berço ao Túmulo”? Com respostas anda mais instigantes, essas e outras questões são colocadas para as empresas pelos autores de “Cradle to Cradle”, William McDonugh (Arquiteto) e Michael Braungart (Químico).

Para os criadores do conceito Berço ao Berço, McDonough e Braungart, o desenvolvimento sustentável (definido pela primeira vez em 1987 no relatório de Brundtland*) , não se trata apenas de uma questão para comissões globais, governos e organizações não governamentais. Mas, sim para as empresas, afinal através de seus sistemas produtivos impactam diretamente o planeta e seus habitantes.

De acordo com Bill Gates (Criador da Microsoft e um dos homens mais ricos do mundo, cliente dos autores), só quem consegue identificar o obsoleto terá êxito nesses tempos, e que esse atual sistema de desenvolvimento já está se tornando coisa do passado. Mas ao contrário do que se poderia pensar, esta não é uma má notícia! E sim uma grande oportunidade de diferenciação e crescimento.

O modelo do berço ao berço, proposto pelos autores, traz uma solução inovadora para o desafio do desenvolvimento sustentável. Eles propõem que o homem continue a consumir e a se desenvolver, porém, que ao invés de destruir o meio ambiente, deva “alimentar” o ciclo biológico da Terra (waste equals food*) e o ciclo tecnológico das indústrias. O que não puder ser utilizado como “nutriente para o meio ambiente”, deverá ser quebrado em elementos que possam ser reabsorvidos pelas indústrias como matéria-prima de qualidade (os autores condenam o downcycling*).

Criam-se assim, novas formas de produção, construção e utilização de recursos naturais e matérias-primas mais eficazes, econômicas e sustentáveis. Os autores também sugerem que o modelo de negócios futuro, será baseado principalmente no valor dos serviços e não propriamente nosprodutos.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS


Os estudos de caso estão baseados na certificação Cradle to Cradle, das empresas, a qual divide a análise de produtos em cinco grandes áreas: Materiais, Reutilização de Materiais, Água, Energia e Responsabilidade Social.

Assim, pesquisas buscam identificar se e como as empresas estão inserindo iniciativas ambientalmente corretas no desenvolvimento de seus produtos, quais as dificuldades encontradas, quais são as ações previstas, e o que poderia ser implementado no futuro.
Os autores propõe uma re-evolução e uma ferramenta para análise crítica de produtos e modelos de negácio, considerando o impacto e as interconexões de: ecologia, igualdade e economia. Além disso, indicam os cinco passos para a eco-efetividade:

1. Livrar-se dos culpados conhecidos, entre eles: cloreto de vinil, cádmio, mercúrio, chumbo, asbestos, benzeno, trióxido de antimônio, cromo, etc.
2. Seguir preferências de forma educada: na escolha das matérias primas, prefira aquelas que atendam a necessidade do produto, mas que dentro dos conhecimentos atuais, menos impactem o ambiente e o ser humano. Prefira ecologicamente inteligente (menor impacto negativo), respeito aos produtores, comunidades e clientes e divirta-se, inclua criatividade no design e prazer no usar.
3. Criar uma lista “passiva positiva”, busque ativamente os componentes e materiais inovadores com menor ou nenhum malefício social ou ambiental e que atendam a função original.
4. Ativar a lista positiva: aqui é onde o redesenho realmente começa, pare de ser “menos ruim” e descubra como ser bom
5. Reinventar, não se contente em criar produtos que alimentem o ciclo biológico e tecnológico: “não crie um carro, crie um nutri-veículo, ou seja um carro que tenha emissões positivas e gere efeitos nutritivos para o meio ambiente.

O SITEMA "BERÇO AO TÚMULO"

Tudo o que produzimos e consumimos é incinerado, enterrado ou deixado à própria sorte nos lixões.

A cova é o lugar comum para todos os produtos e materiais, mas como na Terra “nada se cria tudo se transforma”, esses materiais tornam-se resíduos em sua maioria poluentes, tóxicos e até mesmos perigosos.

Resíduos esses, que destroem a capacidade de recuperação do meio ambiente e que impactam significativamente a saúde do ser humano.

Fica claro que o modelo “berço para cova” não é a solução mais inteligente, lucrativa e perene para as empresas. Destruir recursos, gastar na correção de impactos negativos e no alinhamento a legislações complexa, perder clientes e/ou viver sob o escrutínio da sociedade preocupada com o aquecimento global, o câncer e outros males que afetam a vida na Terra, são os impactos de um modelo de desenvolvimento obsoleto e inoperante.

Sabe-se que as empresas já avançaram muito na redução de impactos, através da ecoeficiencia e da busca pela sustentabilidade. Iniciativas necessárias, mas suficientes? Ser menos mal é realmente melhor do que criar algo genuinamente bom?


ALPICAÇÕES "BERÇO AO BERÇO"


Em tela, vários casos de empresas que adotam o modelo cradle to cradle nas mais diversas escalas.

As leis do consumo doravante, serão baseadas principalmente no valor dos serviços e não propriamente nos produtos, seguindo esta postura vários exemplos de empresas que adotam o sistema “cradle to cradle”.

A FORD é uma delas, ícone da revolução da produção em série, renovou inteiramente sua planta industrial em River Rouge, como um laboratório para criação de produtos inovadores. E ainda economizou US$ 35 milhões. (detalhes nas ilustrações)

Outras empresas como Nike, SC Jonhson, Dow Chermical, Du pont e Herman Miler também estão apilcando o ” cradle to cradle”, também aderiram e implataram em seus produtos o planejamento cradle-to-cradle.

Uma camiseta, que ao ser compostada, vira humus, já é produzida pela Trigema Esporte e Lazer. Uma linha de roupas íntimas da Triumph, já é 100% berço ao berço: “Pure Origin”. Já podem ser adquiridas a preços baixos nas lojas e online.

A empresa suíça Rohner produz tecidos compostáveis para cadeiras de escritório e de avião. Já são usados no Airbus 380. É um tecido que se pode comer.

Desde 1995, Braungart assessora a Nike na escolha de materiais não tóxicos. Em função disto, a Nike definiu objetivos ambiciosos: até 2011 todos os calçados cumprirão as normas do “Cradle to Cradle®”. Em 2015 todas as roupas e a partir de 2020 todos os produtos.

Janelas isolantes, de vidro duplo, que não podem ser produzidos sem químicos tóxicos, não são mais vendidas, mas ‘alugadas’ por 25 anos. Depois, o fabricante Schüco as recebe de volta e são utilizadas na produção de novas janelas. Ou seja: eles recebem as janelas de volta e novas janelas são fabricadas, sem perdas de material.

Uma cadeira de escritório que não é biodegradável, mas é projetada para ser facilmente desmontada. Todas as peças podem ser reutilizadas como componentes para uma nova cadeira ou para produtos similares. Aliás, é a cadeira de escritório mais vendida no mundo.

Esta parece ser uma nova revolução industrial. De acordo com os princípios do “Cradle to Cradle’, toda matéria circulará em somente dois circuitos: o técnico e o biológico. Tudo que é orgânico, tais como alimentos e produtos de consumo, como detergente, sabão e outros, ou tudo que pode ser compostável, pertence ao ciclo biológico. Produtos técnicos fazem parte do ciclo técnico. Os fabricantes aceitam os produtos de volta e os reutilizam para fabricar novos. Um mundo 100% livre de lixo.

Somos os únicos seres vivos neste planeta que produzem lixo. As formigas, por exemplo, cuja biomassa é aproximadamente quatro vezes maior do que a nossa, são seres tão inteligentes que cada um de seus metabólitos serve como alimento para outros seres vivos. Assim, ajudam a natureza.

Da mesma forma podemos fabricar apenas produtos que servem como nutrientes para outros organismos ou produtos. O pensamento cíclico vem de países que vivem já há milhares de anos seguindo estes princípios e que hoje ainda carregam dentro de si a consciência da vida e do universo cíclico. Quem pratica Yoga,. Meditação ou outros exercícios para relaxar, que tem origem no oriente, talvez possa ter uma idéia mais aproximada do que significa ‘pensar em ciclos’.

O ponto é: ir além da modernização de sistemas industriais para redução dos seus efeitos danosos.

Abordagens convencionais à sustentabilidade freqüentemente fazem do uso eficiente de energia e materiais seu objetivo final.

No entanto, embora possa ser uma estratégia útil de transição, tende a reduzir os impactos negativos sem transformar a atividade danosa. A reciclagem de carpetes, por exemplo, pode reduzir o consumo, porém, caso o forro contenha PVC, como a maioria dos forros de carpetes, o produto reciclado ainda está numa viagem só de ida para o aterro, onde se transforma em resíduo perigoso

O planejamento berço-a-berço, por outro lado, oferece um arcabouço onde os ciclos efetivos e regenerativos da natureza proporcionam modelos para projetos humanos totalmente positivos. Dentro dessa estrutura podemos criar economias que purificam o ar, terra e água; que dependem da receita solar e não geram nenhum resíduo tóxico; que utilizam materiais seguros e sadios, reabastecendo o planeta e sendo eternamente reciclados, e que geram benefícios que realçam toda a forma de vida.

No mundo industrial, está se criando um novo conceito de materiais e de fluxos de materiais. Da mesma forma que ocorre no mundo natural, onde o “resíduo” de um organismo circula através de um ecossistema, proporcionando alimento para outras criaturas vivas, os materiais de berço a berço circulam em ciclos de laço fechado, fornecendo nutrientes para a natureza ou indústria.

Esse modelo reconhece dois metabolismos, dentro dos quais os materiais fluem como nutrientes sadios.Primeiro, os ciclos nutrientes da natureza constituem o metabolismo biológico. Materiais destinados a um fluxo ótimo no metabolismo biológico são nutrientes biológicos. Produtos concebidos com esses nutrientes, como embalagens biodegradáveis, são destinados a serem utilizados e devolvidos com segurança ao meio ambiente, para alimentar sistemas vivos.

O segundo, o metabolismo técnico, destinado a refletir os ciclos berço-ao-berço do planeta, é um sistema de laço fechado, em que recursos sintéticos e minerais de alta tecnologia, e valiosos – nutrientes técnicos – circulam num ciclo perpétuo de produção, recuperação e refabricação. Idealmente, todos os sistemas humanos que compõem o metabolismo técnico são movidos pela energia renovável do sol.

Nutrientes biológicos e técnicos já estão no mercado. O tecido de estufaria Climatex Lifecycle é uma mistura de lã livre de resíduos de pesticidas e rami cultivado organicamente, tingido e processado inteiramente com produtos químicos não-tóxicos. Todos seus insumos de produto e processo foram definidos e selecionados em função da segurança humana e ecológica, dentro do metabolismo biológico. Resultado: os retalhos do tecido são transformados em feltro e utilizados por clubes de jardim como matéria vegetal para cultivo de frutas e legumes, devolvendo os nutrientes biológicos do tecido ao solo.

Enquanto isso, a Honeywell está lançando uma fibra de carpete de alta qualidade chamada Zeftron Savant, feito da fibra de nylon 6, perpetuamente reciclável. Zeftron Savant foi projetada para ser recuperada e repolimerizada – retornada a suas resinas constituintes – para transformar-se num novo material para novos carpetes. Na realidade, a Honeywell pode recuperar o velho e convencional nylon 6 e transformá-lo em Zeftron Savant, ou seja, uma efetiva reciclagem “ascendente”, e não descendente”, de um material industrial. O nylon é “rematerializado”, e nãodesmaterializado – um produto verdadeiramente berço-a-berço.

Na indústria de carpetes comerciais, sistemas de recuperação de materiais estão proporcionando um modelo para o desenvolvimento de metabolismos técnicos.

A Shaw Industries, por exemplo, desenvolveu uma placa de carpete de nutriente técnico para seus clientes comerciais. A empresa garante que toda fibra de seus carpetes de nylon 6 será recebida de volta e retransformada em fibra de nylon 6 para carpete, e seu forro seguro de poliolefina retornado a forro seguro de poliolefina. Matéria- prima a matéria-prima.Um ciclo de berço-a-berço. A placa de carpete de nutriente técnico da Shaw é concebida como um produto de serviço, um elemento-chave da estratégia berço-a-berço.

Produtos de serviço são bens duráveis, como carpetes e lavadoras, projetados por seu fabricante para serem devolvidos e reutilizados.O produto presta um serviço ao cliente enquanto o fabricante mantém a propriedade dos bens materiais do produto. Ao fim de um determinado período de uso, o fabricante retoma o produto e reutiliza seus materiais em outro produto de alta qualidade.

Amplamente praticado, o conceito de produto de serviço pode mudar o estilo de consumo, à medida que os sistemas humanos movidos a energia renovável reutilizam materiais valiosos, através dos ciclos de vida de muitos produtos.

Em larga escala, esse conceito pode transformar a natureza das economias. Em Chicago, por exemplo, esses princípios são um referencial para Numa economia berço-a-berço, as cidades são o lar e a fonte principais da nutrição técnica – o local onde metais são forjados, polímeros sintetizados e tratores, computadores e moinhos desenhados e fabricados. As cidades enviam esses materiais para o mundo, recebendo-os de volta à medida que transitam pelos ciclos de laço fechado. os esforços do Prefeito Richard Daley de transformar a cidade na mais verde da América, um pólo de eficiência energética e fluxos benéficos de materiais

Paralelamente, o campo pode ser considerado o lar do metabolismo biológico.Os materiais lá gerados – alimentos, madeiras, fibras – são criados por meio das interações da energia solar, solo e água e são a fonte da nutrição biológica das comunidades rurais e cidades vizinhas. Um dos papéis fundamentais das cidades nesse metabolismo é devolver a nutrição biológica de forma segura e sadia, digamos, como fertilizante limpo, ao solo rural. Esses fluxos de nutrientes e energia são os metabolismos duplos da cidade viva, a força motriz das economias vibrantes do futuro.

Mesmo nações grandes e influentes como a China adotaram estratégias berço-a-berço. Criado a partir de uma tradição de 4.000 anos de agricultura sustentável, o Vice-Ministro de Ciência e Tecnologia, Deng Nan, anunciou em setembro de 2002 que a China dará início ao desenvolvimento de indústrias e produtos com base em princípios berço-a-berço, através do Centro de Desenvolvimento Sustentável China–Estados Unidos. A China está desenvolvendo 12 vilas berço-a-berço, onde viverão 400 mil pessoas, empreendimentos movidos energia solar e eólica. Reaproveitamento de Grey water, tratamento e transformação de dejetos em gas de cozinha. Numa filosofia reversa: Se as cidades invadem fazendas, fazendas invadem cidades (telhados verdes)

Fica muito claro, nessa nova visão das relações homem-meio ambiente, que não existe apenas um limite mínimo para o bem-estar da sociedade; há também um limite máximo para a utilização dos recursos naturais, de modo que sejam preservados.

A estratégia berço-a-berço revela nossos projetos como expressões encantadoras de criatividade, como sistemas de sustentação de vida em harmonia com os fluxos de energia, almas humanas e outros seres vivos. Quando isso tornar-se o símbolo das economias produtivas, o próprio consumo terá sido transformado.